Matt Furie

Matt Furie é um artista mais conhecido pelo seu personagem Pepe, the Frog, que infelizmente foi apropriado e amplamente utilizado por grupos de extrema-direita a ponto de ter sido classificado como símbolo de ódio.

Um desses tristes casos nos quais todo um artista é ofuscado pelo repercussão extremamente negativa de uma parte muito pequena de seu trabalho. Mas não vou falar sobre isso especificamente, se quiser saber mais, sugiro o documentário que foi feito a respeito, "Feels Good Man", cujo nome vem da tirinha onde Pepe aparecia.

Desde Pepe, o estilo dele evoluiu muito. Ele manteve um pouco daquela vibe inicial que parecia de um desenho do Adult Swim que ele usou em "Feels Good Man", só que é um traço muito mais evoluído e uma estética muito mais surrealista.

Acho que tem um pouco de Serafini na fase atual de Matt Furie, mas, diferentemente das obras de Serafini, com carácter enciclopédico, um "surrealismo técnico", a de Matt tem um tom muito mais humorístico, satírico, como não podia deixar de ser.

Só para fazer uma breve comparação, aqui estão algumas páginas do principal trabalho de Luigi Serafini, o "Codex Seraphinianus" (lembrando que a escrita não significa nada):

Percebe-se um nível de detalhamento muito alto e, como eu disse, são imagens enciclopédicas, descritivas e realistas. Vale lembrar que Luigi é arquiteto, assim sendo, o tipo de desenho que ele estudou naturalmente era muito mais técnico e tinha esses objetivos que apontei.

Eu gosto muito do Codex, ele é dividido em capítulos, quase que por categorias de áreas sobre esse mundo.

Agora, alguns de Matt:

O traço é totalmente diferente do de Luigi, muito mais arredondado, mais cartunesco, mais infantil até, aquela velha técnica da quebra de espectativa através do uso de estética infantil para tratar de temas bizarros.

Os dele, pelas características que citei, têm uma composição mais simples, menos elementos em destaque, geralmente eles em posições naturais. Tudo isso, claro, comparado ao estilo de Serafini, mas uma coisa eles parecem ter mais: personalidade.

Os desenhos de Luigi Serafini são impecáveis, precisos e impessoais, tais como os desenhos técnicos são, por isso creio ser algo que ele herdou de sua formação em arquitetura. Já os de Matt, são mais simples, mais caricatos, parecem desenhos, e tem um quê de personalidade, não necessariamente a de Matt, mas sinto que seja o caso.

Novamente naquilo de parecer infantil, acho que se você entregar a uma criança o Codex Seraphinianus e Mindviscosity, imagino que provavelmente ela escolherá Mindviscosity, pelo cartunesco, pelas cores vivas, etc.


O estilo de Serafini é uma contradição, uma subjetividade objetiva, parecem a tentativa de alguém de organizar o seu próprio pensamento, como se para que fosse entendido. E o que ele retrata, apesar de absurdo, é lógico, há um sentido interno, as coisas se encaixam. É espetacular.

Os de Matt Furie também tem meio que um universo compartilhado, aparentemente, mas muito mais escancarado, é como se o desenho estivesse falando para você: "não tem sentido, e tudo bem."

Se o Codex Seraphinianus parece a tentativa de alguém de ser compreendido através de uma técnica e beleza insuperável, o que Matt Furie desenha parece a aceitação de não ser compreendido, embora entenda-se algo, é tudo mais dúbio.

Gosto muito de ambos os artistas.


Só um adendo, Matt Furie também têm desenhos concêntricos como o que é o plano de fundo deste site, não sei se sou só eu, mas me lembram bastante as mandalas jungianas.